17 de Junho de 2025

O sentido da Vida e o mercado das Ilusões

Segunda-feira, 16 de Junho de 2025 O sentido da Vida e o mercado das Ilusões

Na terceira audiência geral de Seu Pontificado, a primeira do mês de junho, o Papa Leão XIV, dirigindo-se de modo especial aos jovens, exortou a todos que “às vezes temos a impressão de não conseguir encontrar um sentido para a nossa vida: sentimo-nos inúteis, inadequados, precisamente como os operários que aguardam na praça do mercado, à espera que alguém os leve para trabalhar”.

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Infelizmente, estamos inseridos, há algumas décadas, em uma realidade que não buscou e não busca o equilíbrio, em Deus, para as constantes mudanças, inovações e avanços tecnológicos: o mercado. Esta força dominante, impulsionada pela busca incessante por lucro e expansão, tem moldado nossa sociedade de formas profundas, muitas vezes negligenciando os valores humanos e espirituais em favor de uma lógica puramente materialista e consumista.

Sua Santidade nos adverte que “talvez não tenhamos chegado a tempo, talvez outros se tenham apresentado antes de nós, ou porventura as preocupações nos tenham detido noutro lugar”. Em razão disso, em certas ocasiões, o tempo transcorre, a existência se desenvolve, e não nos percebemos reconhecidos ou valorizados.

Neste ambiente de competição injusta, acirrada e constante busca por resultados, a individualidade e a contribuição de cada um podem ser facilmente ofuscadas. A sensação de não ser visto, de ter o esforço minimizado ou a dedicação ignorada, é um lamento ecoante em um mundo onde a performance e a visibilidade muitas vezes superam a autenticidade e a essência.

Esta reflexão, permeada por uma melancolia resignada, capta a essência da experiência humana em um sistema que nem sempre recompensa a virtude ou a persistência. A pressa imposta pela modernidade, a corrida incessante por novidades, e a efemeridade das tendências podem nos fazer sentir como se sempre estivéssemos um passo atrás, ou que o nosso momento nunca chega.

As inquietações que nos aprisionam podem ser as artimanhas do próprio sistema: a imperatividade da subsistência, as demandas do dia a dia, ou as quimeras que o mercado nos apresenta como equivalentes de bem-aventurança e êxito, afastando-nos do genuíno propósito existencial e da harmonia espiritual. É oportuno rememorar que, na Sagrada Escritura, uma metáfora configura-se como uma figura de linguagem que estabelece um paralelo entre dois componentes, sublinhando uma analogia entre eles.

Desde o início de nossa reflexão o Sumo Pontífice utilizou a parábola dos operários de última hora, em Mateus 20. A praça do mercado, “é o lugar dos negócios, onde infelizmente as pessoas compram e vendem até o afeto e a dignidade, procurando obter algum lucro, alguma vantagem. E quando não se sentem valorizadas, reconhecidas, chegam a correr o risco de se vender ao primeiro licitante”.

Contudo, Jesus procura demonstrar que "o dono da vinha" é livre para tomar a decisão que lhe aprouver, agindo de acordo com sua vontade soberana e inquestionável. Ele é fiel à sua palavra, não por uma obrigação externa, mas por ser intrinsecamente fiel à sua própria liberdade suprema, uma liberdade que transcende as convenções e expectativas meramente humanas.

Sua decisão de ir ao encontro daqueles que o "sistema" – com suas engrenagens de manipulação, interesses escusos e busca incessante por controle – quer submeter ao seu bel prazer, revela uma compaixão e um propósito que desafiam a lógica mundana. Esta atitude não é meramente uma escolha, mas uma manifestação de sua essência divina, um Ato de Amor e Compaixão que se contrapõe à opressão e à injustiça, oferecendo esperança e redenção àqueles que são marginalizados e explorados, desiludidos.

O proprietário da vinha, em uma ação atípica para sua posição, assume pessoalmente a contratação de operários, iniciando suas atividades em horário matutino. Usualmente, esta função seria delegada a um administrador. Contudo, neste caso, o próprio dono executa tal tarefa repetidamente ao longo do dia. A ausência de contestações por parte dos contratados, em todas as etapas do processo, sugere que o proprietário age com sagacidade estratégica e em conformidade com as normas legais e sociais vigentes.

Na encíclica Populorum Progressio, o Papa Paulo VI alerta veementemente para a crescente sedução de messianismos ilusórios, que podem, por sua vez, desencadear reações populares violentas, agitações revolucionárias e a adoção de ideologias totalitárias. A gravidade desses problemas é inegável e de amplo conhecimento.

A parábola se concentra na questão do salário justo, e seu ponto principal não é a vinha ou o senhor, mas a remuneração do dia de trabalho. Comparada ao reino de Deus, ela ilustra que a justiça divina transcende a formalidade da justiça humana. Deus não se restringe à justiça legal; em vez disso, Ele "superou a lei da estrita correspondência entre trabalho realizado e retribuição, regulando-se segundo a bondade do seu coração, tomando como norma de ação não o critério econômico, mas o amor gratuito e a compaixão”.

Essa atitude, que transcende a lógica puramente mercantilista, revela um caráter que se eleva acima das expectativas e convenções. Longe de buscar o próprio benefício ou a maximização de lucros, suas ações são impulsionadas por uma generosidade inata, uma inclinação altruísta que o distingue: vai ao encontro por iniciativa própria.

Neste cenário, onde a maioria das interações é pautada por um cálculo de custo-benefício, a sua forma de agir se torna um farol de esperança e um modelo de conduta. Ele não se limita a cumprir obrigações ou a realizar tarefas por uma recompensa esperada; pelo contrário, a essência de sua contribuição reside na entrega desinteressada, na dádiva de si mesmo sem esperar nada em troca.

Essa é a verdadeira medida de sua riqueza interior, um valor que não pode ser quantificado por moedas ou bens materiais, mas que se manifesta na plenitude de um ser que encontra na bondade e no amor a sua maior expressão. É a manifestação de uma ética profunda, que desafia os paradigmas estabelecidos e propõe uma nova forma de relacionamento, baseada na reciprocidade do afeto e na abundância da gratuidade. Ele quer.

"Senhor Jesus, gratidão por Teu Amor infinito e compaixão. Reconheço Tua bondade e Te agradeço por Teu sacrifício em meu favor e em favor de toda a humanidade. Tua presença nos momentos de alegria, Tua mão guia nos momentos de dificuldade, e Tua infinita compaixão por todos aqueles que sofrem. Que meu coração esteja sempre aberto para receber Teu Amor, Tua Visita, para que eu possa refletir Tua bondade em meus gestos, palavras e ações. Aumenta em mim a Vossa Fé. Que eu possa ser um canal de Teu Amor e Compaixão para com o próximo, imitando Teu exemplo de Amor e Perdão. Abençoa-me e a todos aqueles que sofrem, que possam sentir Tua silenciosa presença e Tua paz, em seus corações. Amém."

Fonte: Vatican News
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