13 de Novembro de 2025

Assim se faz uma notícia errada sobre o Papa Francisco

Sexta-feira, 17 de Janeiro de 2014 Assim se faz uma notícia errada sobre o Papa Francisco

O sacerdote jesuíta Antonio Spadaro, diretor da revista italiana A Civiltà Cattolica -que é revisada antes de sua publicação pela Secretaria de Estado do Vaticano- analisou detalhadamente “como nasce uma notícia equivocada sobre o Papa Francisco”, depois de que diversos meios italianos e franceses tergiversassem algumas palavras do Santo Pai apresentando-as como uma aprovação da Igreja às uniões gay.
Os meios de imprensa, lamentou o Pai Spadaro, chegaram a colocar em lábios do Papa palavras que nunca disse.

A seguir, EWTN Notícias reproduz o texto completo do P. Antonio Spadaro, titulado “Leia aqui como nasce uma notícia equivocada sobre o Papa Francisco” e publicado em italiano em Il Quadernetto:

“A sexta-feira 3 de janeiro de 2014 se publicou na Civiltà Cattolica o texto da conversa do Papa Francisco com os superiores generais das ordens e congregações religiosas, que se realizou o 29 de novembro de 2013. O texto se pôs a disposição de todos às 15:00 aqui:
http://www.laciviltacattolica.it/articolidownload/extra/Acordemaomundo.pdf  

Um dia depois, o 4, é reproduzido em muitos manchetes, especialmente no Corriere della Sera (de Itália) que lhe dedica duas páginas.
Esse dia pela tarde a agência (italiana) ANSA gera dois despachos que geram uma notícia errada. Como? 1) utilizando um entrecomillado parcial, que fez pensar que o Papa estava falando somente de situações de filhos de casais homossexuais 2) usando a palavra “abre” (Casais Gay, o Papa abre: Propõem novos desafios educativos):

http://www.ansa.it/web/notizie/rubriche/politica/2014/01/04/Papa-coppie-gay-pongono-sfide-educative-nuove-_9850935.html.

A notícia foi elaborada a partir de algumas frases do Papa, que em mudança se podem ler íntegras aqui:
http://antoniospadaro.tumblr.com/pós/72364106127/ecco-lhe-parole-veramente-pronunciate-dá-papa-francesco.
Quem sabe por que esta notícia se deu mais de 24 horas depois da divulgação do texto da conversa do Papa com os pais gerais. Neste ponto, outros tomaram a nota de ANSA literalmente e a difundiram em outros idiomas:
(por exemplo http://vaticaninsider.lastampa.it/em the/-vatican/detail/articolo/nozze-gay-gay-marriage-casal-homossexual-31023/).

O jogo de entrecomillados era funcional para uma tese, mas ainda não chegava a mudar a letra das palavras.

Mas neste ponto FRANCE PRESS põe entre comillas palavras que o Papa nunca tinha dito. Provavelmente isto sucedeu porque tomou a nota de ANSA, mas mudando de lugar as comillas, e assim fez dizer ao Papa:
"Du point de vue éducatif, lhes mariages homosexuels nous lancent dês défis que nous avons parfois du mau à compreender" (Desde o ponto de vista educativo, o casal homossexual gera desafios que as vezes temos problemas para compreender).

Estas palavras não estão na conversa do Papa Francisco.

Em seguida, a nota é retomada por outros que reproduzem o erro em francês
(por exemplo http://tempsreel.nouvelobs.com/monde/20140104.OBS1383/lhe-pape-veut-changer-l-attitude-de-l-eglise-envers-lhes-enfants-d-homos.html) e depois em outros idiomas como o inglês
(por exemplo http://www.huffingtonpost.com/2014/01/05/pope-francis-gay-parents-n_4542026.html).

E assim, a partir deste momento, as palavras “lhes mariages homosexuels” e “gay union” agora são entrecomilladas e postas nos lábios do Papa, que em mudança nunca as usou.

Quando o telejornal TgCom me entrevistou por telefone usou estas palavras. Ouvindo-as e imaginando que eram somente uma síntese veloz da jornalista que me entrevistava, disse que o Papa não tinha dito esses conceitos. Minhas palavras foram recolhidas pelo Tg5.

Ao dia seguinte, domingo, os jornais estavam cheios de manchetes (“O Papa se abre aos casais gay” ou similares) relacionados a essa notícia da agência que tinha sido recolhida a sua vez de outras.

O Pai Federico Lombardi desmentiu oficialmente essas palavras na manhã do domingo 5:
http://it.radiovaticana.vai/news/2014/01/05/unionigay,pailombardi:evidenteforzaturaestrumentalizzazione/it1-761405.

Muitos tomaram suas palavras mas alguns as consideraram como uma espécie de “contraorden” (… ¡ainda que não tinha tido tal ‘ordem’!).
(por exemplo: http://www.italiaoggi.it/giornali/dettagliogiornali.asp?preview=false&accessMode=FA&ide=1858787&codiciTestate=1).

Alguns, mais corretamente, disseram que o “Vatican denies pope is open to recognition of gay civil unions” (Ao Vaticano nega que o Papa esteja aberto a reconhecer as uniões civis gay” ou manchetes similares
(por exemplo: http://www.reuters.com/article/2014/01/05/us-pope-homosexuals-idUSBREA040BX20140105)

Outros escreveram manchetes sobre “disparates mediáticos” em relação ao Papa Francisco: http://www.formiche.net/2014/01/07/a-frottola-mediatica-dellapertura-papa-francesco-alle-unioni-gay/.

Depois, o 6 de janeiro, publicou-se um artigo meu no Corriere della Sera sobre as “verdadeiras aberturas” do Papa Francisco: http://archiviostorico.correr.it/2014/gennaio/07/ladoAberturaPapa_#Francescoco_0_20140107cfda6f54-7776-11e3-9815-deaa70f70521.shtml.

@Ficar<3>+Me<1> duas perguntas:


1) Por que ANSA lançou sua notícia fazendo crer que o Papa tinha falado de casais homossexuais depois de 24 horas de que o texto do Papa se fizesse público?

2) Por que France Press entrecomilló mal as palavras do Papa fazendo-lhe dizer coisas que não tinha dito?

Reflexão agregada o 15/1/14:

Os modos comunicativos do Papa Francisco são uma riqueza que propõe um grande repto e que, sobretudo, devela os segredos dos corações. Sua capacidade comunicativa se confronta com o grande repto da comunicação aberta e social de hoje. E não acaba por fechar-se numa "caixa de cristal". Sim, correm-se riscos, como ilustrei anteriormente, mas sua comunicação chega ao coração de muita, muita gente. Creio que quem sonhe com uma comunicação papal não pastoral, senão exclusivamente unida à fórmula documentário que se interprete dentro de círculos fechados, ainda que sejam amplos, ficará decepcionado. Pelo demais – o sabemos – também não esta serve para evitar as ambigüidades e os mal-entendidos.

Portanto, a comunicação do Papa sai dos círculos hermenêuticos. Está claro que isto propõe reptos que devem enfrentar-se com realismo, e que devem enfrentar-se. Não se pode sempre e só jogar a evitá-los porque este jogo acabará por ser potencialmente ainda mais arriscado, e poderia gerar textos tão rígidos que já não seriam realmente comunicativos.

¡Então temos grandes reptos!

Para ler o texto original, em italiano, pode ingressar a: http://antoniospadaro.tumblr.com/pós/73002107117/ecco-come-nasce-uma-notizia-errata-sua-papa-francesco