Nunca encobri casos de pedofilia, diz Bento XVI em extensa carta a um ateu militante
Quarta-feira, 25 de Setembro de 2013
O matemático italiano e ateu militante, Piergiorgio Odifreddi, recebeu o passado 3 de setembro uma carta muito especial. Um envelope selado, com 11 folhas com data do 30 de agosto e assinadas por Benedicto XVI.
No texto, o Bispo Emérito de Roma responde ao livro de Odifreddi "Caro papa, ti scrivo" (Querido Papa, escrevo-te, Mondadori, 2011). Um livro que, como o autor recorda, desde a portada se define como uma "luciferina introdução ao ateísmo".
No artigo no que Odifreddi comenta suas impressões ao receber esta carta afirma: "Não era uma coincidência que dirigisse minha carta aberta a Ratzinger. Depois de ter lido seu "Introdução ao Cristianismo", entendi que a fé e a doutrina de Benedicto XVI, a diferença de outros, eram o suficientemente coerentes e sólidas para poder enfrentar perfeitamente e sustentar ataques frontais".
Agressividade e argumentos "ligeiros"
No fragmento que se publicou da carta no diário A Repubblica, pode-se ler como Benedicto XVI reconhece que leu algumas partes desfrutando-o e com benefício e outras no entanto se tem maravillado por uma verdadeira agressividade e a ligeireza do argumento.
Ao início da carta, o Bispo Emérito de Roma assinala que "você me faz notar que a teologia seria "fantaciencia". E frente a este argumento apresenta quatro pontos.
Ciência ficção na religião... e as matemáticas
Em primeiro lugar assinala que "é correto afirmar que "ciência" no sentido mais estrito da palavra o são só as matemáticas, enquanto eu aprendi de você que seria necessário distinguir ainda entre aritmética e geometria. Em todas as matérias específicas a cientista tem cada vez sua própria forma, segundo a particularidade de seu objeto. O essencial é que aplique um método verificable, exclua o arbitrio e garanta a racionalidade nas respectivas modalidades".
Em segundo lugar, Benedicto XVI sustenta que "você deveria pelos menos reconhecer do que, no âmbito histórico e no do pensamento filosófico, a teologia produziu resultados duradouros".
Como terceiro aspecto afirma que "uma função importante da teologia é a de manter a religião unida à razão e a razão à religião. Ambas funciones são de essencial importância para a humanidade".
Recordando a Habermas
Neste ponto recorda que em seu diálogo com Habermas "mostrei que existem patologias da religião e -não menos perigosas- patologias da razão. Ambas precisam a uma da outra, e tê-las continuamente conectadas é uma tarefa importante da teologia".
No último ponto, bem mais extenso do que os anteriores, Benedicto expressa que "a "fantaciencia" existe, por outra parte, no âmbito de muitas ciências" e faz referências às teorias que Odifreddi expõe sobre o início e o fim do mundo em Heisenberg, Schrödinger, etc. que -continua Benedicto XVI-, "o designaria como "fantaciencia" no bom sentido: são visões e antecipações, para atingir um verdadeiro conhecimento, mas são, de fato, somente imaginações com as que procuramos acercar-nos à realidade".
Pouco nível: a pederastia
Depois de desenvolver com mais detalhe estas idéias, Benedicto XVI se detém no capítulo sobre o sacerdote e a moral católica e nos diferentes capítulo sobre Jesús. "No que se refere ao que você diz do abuso moral de menores por parte de sacerdotes, posso -como você sabe- constatar só com profunda consternação. Nunca tratei de mascarar estas coisas. Que o poder do mal entre a tal ponto no mundo interior da fé é para nós um sofrimento que, por uma parte, devemos suportar, enquanto, por outra, devemos ao mesmo tempo, fazer tudo o possível para que estes casos não se repitam.
Não é também não motivo de tranqüilidade saber que, segundo as investigações dos sociólogos, a percentagem dos sacerdotes culpados destes crimes não é mais alto que em outras categorias profissionais semelhantes. Em qualquer caso, não se deveria apresentar este desvio ostentosamente como se se tratasse de uma sujeira específica do catolicismo. Se não é lícito silenciar o mal na Igreja, não se deve também não silenciar o grande caminho luminoso de bondade e de pureza, que a fé cristã traçou ao longo dos séculos".
Por isso, Benedicto XVI recorda nomes como San Benito de Nursia e sua irmã Escolástica, Francisco e Clara de Assis ou Teresa de Ávila e Juan da Cruz.
O "Jesús histórico", o de Hengel e Schwemer
Com respeito ao que o matemático diz sobre a figura histórica de Jesús, Benedicto recomenda ao autor os quatro volumes que Martín Hengel publicou junto com María Schwemer, "um exemplo excelente de precisão histórica e de amplísima informação histórica", assinala Ratzinger.
Assim mesmo recorda, como já aclarou no primeiro volume de seu livro sobre Jesús de Nazaré que "a exegese histórica-crítica é necessária para uma fé que não propõe mitos com imagens históricas, senão que reclama uma historicidade verdadeira e por isso deve apresentar a realidade histórica de suas afirmações também de forma científica".
Em vez de Deus, uma natureza sem definir
Continua o papa emérito afirmando que "se você, no entanto, quer substituir a Deus com "A Natureza", fica a pergunta, quem ou que é esta natureza. Em nenhuma parte você a define e aparece por tanto como uma divindade irracional que não explica nada".
E adiciona: "Quisesse, por tanto, sobretudo destacar que em Sua religião das matemáticas três temas fundamentais da existência humana ficam sem considerar: a liberdade, o amor e o mau. Qualquer coisa que diga a neurobiología sobre a liberdade, no drama real de nossa história está presente como realidade determinante e deve ser tomada em consideração".
Na última parte publicada da carta de Benedicto, o papa emérito assinala que "minha crítica sobre seu livro em parte é dura. Mas do diálogo faz parte a franqueza; só assim pode crescer o conhecimento".
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